É necessário tratar os factos sociais como coisas. Émile DURKHEIM
A constituição de um espaço tornando possível o debate contraditório sobre as opções da cidade supõe a existência de um mínimo de elementos de referência comuns aos diversos actores: a linguagem para formatar as coisas, para dizer os fins e os meios de acção, para discutir os resultados. Esta linguagem não pré-existe ao debate. Ela é negociada, estabilizada, inscrita, depois deformada e demolida pouco a pouco, na teia das interacções próprias do espaço e do período histórico. Ela não é um puro sistema de signos reflectindo as coisas existentes independentemente destas: a história do desemprego, da sua definição e da sua medida, e das instituições destinadas a reduzir e a ajudar os desempregados, oferece um exemplo das interacções entre as medições estatísticas e os processos institucionalizados de identificação e de codificação dos objectos. (...) Um debate público sobre o entendimento estatístico, tanto deverá apoiar-se nos seus investimentos, como discuti-los, em vez de se encerrar nos limites das suas contradições. Por um lado, a controvérsia pode conduzir a colocar em causa a equivalência e a permanência das qualidades dos objectos, e adicionalmente, a instalação de outras convenções é muito onerosa. A reflexão aqui proposta sobre as relações entre estatística e espaço público gostaria de contribuir para a explicitação e análise desses espaços de formas longamente solidificadas, que devem ao mesmo tempo ser indiscutíveis para que a vida siga o seu curso, no entanto questionáveis para que a vida possa mudar o seu curso. Alain DESROSIÈRES